O que fazer para ser DJ
- @elasnotechno
- 26 de out. de 2018
- 5 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2018
Aula de discotecagem na Aimec | Imagens por: Lívia Figueiredo e Thayná Lucas
Você sabe como fazer para se tornar DJ? O mercado exige um curso profissionalizante? Existe faculdade para se tornar um disc-jóquei? Quais são os caminhos que a percorrer para comandar pistas nas casas noturnas? Apesar de ser uma profissão ainda não regulamentada, a carreira é desejo de muitos jovens apaixonados por música, que às vezes não sabem nem por onde começar. Entre os interessados, contudo, as mulheres são minoria.
Por ser uma profissão não regulamentada, não existe a exigência de nenhum diploma ou curso. Mas há formações que ajudam na preparação. Atualmente, existem dois tipos de cursos para DJs: os livres e o tecnólogo. O livre pode ser realizado, tanto de forma presencial quanto on-line, em escolas como a Aimec (Academia Internacional de Música Eletrônica, em Campinas (SP), a DJ Ban, em São Paulo, e o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), que oferece o curso em várias unidades. Os custos são de cerca de R$ 3 mil, e a formação pode dura cerca de 60.
Já o curso tecnólogo é oferecido, no Brasil, somente pela universidade particular Anhembi Morumbi, em São Paulo e tem duração de dois anos. A diferença entre essa formação e os cursos livres é que o tecnólogo se volta para a produção de música eletrônica, ou seja, o aluno aprende mais do que apenas a mixar músicas: é ensinado todo o processo de produção. Nos cursos livres, a produção musical é abordada em outro programa formativo.
André Motta, professor e diretor da Aimec, diz que, em sua instituição, o número de alunas corresponde de 30 a 35% do total. Ramilson Maia, professor da Anhembi Morumbi, comenta que nas suas aulas a quantidade de homens tem sido sempre maior que a de mulheres. “Durante os dez anos em que eu leciono nesse curso, os homens sempre são os mais interessados, mas não sei exatamente por quê”, diz.
Alessandro Santos, diretor do Sindecs (Sindicato dos DJs e Profissionais de Cabine de Som de São Paulo), reconhece o número menor de DJs e acredita que isso se deve ao preconceito que o gênero feminino sofre na carreira, ainda considerada uma profissão “masculina”. “Temos um espaço no site para que os DJs possam se cadastrar. A maioria é de homens. Essa profissão não foi feita só para homens, foi feita para quem quiser e tiver capacidade, para quem estudou para estar ali. Hoje nós temos muitas mulheres cadastradas, mas ainda não são tantas quanto deveriam ser”, explica o diretor, que não sabe informar com precisão o número.
Além das formações institucionais, existem também tutoriais na Internet que podem ajudar na formação de um DJ. Eles são fornecidos por escolas importantes de música eletrônica, como os que são postados pela DJ Ban, pela Yellow DJ Academy e pelo Studio Leo Casagrande. “São fontes confiáveis e sérias”, indica Motta, da Aimec. Mas a vantagem da formação tradicional é a manipulação da aparelhagem. “Um curso acelera o processo e dá a possibilidade de usar equipamentos que são muito caros para ter e usar em casa. A escola proporciona essa experiência, para que o aluno possa contar com a mesma tecnologia que ele vai se deparar na cabine de som de um club”, explica Motta.
Instrumentos
Apesar de as casas noturnas contarem com aparelhagem própria, os DJs profissionais costumam ter seu equipamento. É possível mixar apenas com três aparelhos básicos, que não envolvem gastos altos: um computador, um software de produção musical (Virtual DJ, Serato ou Traktor por exemplo) e um bom fone de ouvido. Mas, para um DJ profissional, é importante ter os outros equipamentos, como uma controladora (dispositivo que reproduz as músicas diretamente do computador), ou então um CDJ (aparelho utilizado pela maioria dos DJs com a função de tocar músicas armazenadas em pen drives, CDs ou DVDs) ou um mixer (equipamento que serve para controlar as saídas de áudio de cada canal).
Valores:
Existem controladores com valores variados: de R$ 500 a R$ 3.000
Fones de ouvidos profissionais para DJs giram em torno de R$ 300 a 1.000
O preço de um conjunto de 2 CDJs + Mixer profissional costuma variar de R$ 3 mil a R$ 10 mil
Além da parte técnica, é importante investir em um portfólio de exposição do trabalho. “Hoje o DJ é um artista informal. Ele deve montar o release dele [material de divulgação] com os locais que ele já tocou, os festivais, remixes etc. Às vezes alguns donos de casa noturna contratam por esse release, pela imagem na internet, pelos seguidores”, explica Santos.
Além disso, é preciso conhecer todos os estilos musicais e entender o processo de construção da carreira. Santos, diretor do sindicato e também DJ há 27 anos, afirma que “a primeira coisa para ser um bom DJ é ter um bom repertório, independente de qual gênero ele seja”. Além da técnica, ele diz que é preciso procurar saber como funciona a vida de um DJ: “Nem tudo são flores, é uma profissão de verdade. Dá sim para ser DJ profissional e se manter com isso, mas é uma caminhada muito árdua assim como a de qualquer artista.”
Regulamentação
O sindicato em São Paulo, gerido por Alessandro Santos, existe desde 2003 e é o único em todo o país. Segundo o diretor, a organização busca criar regras de contratação e de oferecimento de ambiente de trabalho adequados, além de lutar por benefícios como plano de saúde, seguro de vida, apoio jurídico para contratos, orientação de carreira e definição de uma formação acadêmica adequada. Santos explica ainda que o sindicato tem um projeto para a definição de um piso salarial para DJs. “Essa questão de salário é complicada. Ainda existem muitos DJs que tocam de graça ou em troca de bebida. Nós incentivamos que o DJ cobre para tocar e que seja um preço justo. Há casas noturnas em SP que pagam R$ 300 para uma noite de um DJ. E eu creio que, com a regulamentação, isso vá se arrumar.”
O presidente diz ainda que, mesmo sem a formalização da profissão, o DJ que se sentir prejudicado pode procurar a entidade. “Para que tudo isso seja cumprido, precisa haver denúncias do que há de errado. A partir disso, o sindicato entra com uma ação de representação no Ministério do Trabalho, e eles cobram as devidas providências”, comenta.
O principal trabalho do sindicato atualmente está na criação de uma base de dados para mensurar quantos DJs existem na cidade de São Paulo, pois esse controle não é feito por nenhum órgão. Na plataforma do Sindecs, já são quase 20 mil cadastrados. Para se filiar é simples, pois não exige nenhuma contribuição financeira, uma vez que o sindicato vive com verba de seu presidente, Antônio Carlos dos Santos.
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